sábado, abril 07, 2007

Páscoa, tempo de viver


Falando de Páscoa, a flor que me liga a essa data é o lírio, com aquele roxo que nos faz recordar as vestes do Senhor dos Passos, tal como era apresentado na procissão da Semana Santa. É uma flor agradável, mas que nos incute um sentido de dor por estar associado à Paixão de Cristo. Mas é uma flor linda e com uma ternura especial. É com naturalidade que recordo a páscoa de outrora, daqueles anos em que jovem e bom rapaz (às vezes) assistia à celebração da efeméride na pequena aldeia onde nasci. Recordo ainda muitos pormenores tais como: a procissão e o encontro do Senhor com Sua Mãe ( Senhora das Dores); os sermões dos sacerdotes (naqueles tempos, muitas pessoas choravam ao ouvi-los); o compasso (a visita pascal do pároco de casa em casa). Da visita pascal recordo a azáfama das pessoas na preparação dos caminhos, atapetando-os com flores, muitas flores e folhagem verde, por onde a cruz e acompanhantes haveriam de passar na direcção das casas dos paroquianos. Já lá dentro, todos os habitantes da casa eram abençoados e beijavam o Senhor. Mesmo nas habitações mais pobres havia sempre algo sobre a mesa - doces, vinho, frutas - para a recepção ao enviado do Senhor. Era simbólico, mas marcou a minha juventude.



A cruz é o símbolo



A cruz é a expressão sublime do sofrimento de Cristo no seu amor pela humanidade. Foi por amor aos homens e mulheres de todos os tempos que Ele se imolou. É o mais puro dos amores em favor do próximo. A Igreja Católica comemora durante uma semana - a Semana Santa - a morte do Redentor. Foi uma morte para nos dar a Vida. É pelo exemplo da sua vida e morte na cruz que Ele nos pede para o seguirmos, fazendo também da nossa vida objecto de amor para com aqueles que nos rodeiam. Sendo Deus feito homem, sacrificou a sua vida como tal, pois só dessa forma poderia remir a humanidade.



Ressuscitou, aleluia


Esta pintura de Raphael expressa - em síntese quase perfeita - a Ressurreição do Senhor. Cristo viveu, morreu e ressuscitou. Ele que era Deus não precisava de se submeter à morte, mas fê-lo para que cada um de nós também obtivésse a Vida para além da morte. Estando mortos pelo pecado, cada um de nós poderá alcançar a vida plena pela via das boas obras. Aqueles que nos rodeiam, até os que estão longe, esperam por nós. Uma palavra de conforto na doença, uma mão estendida aos carentes de afecto, de pão, de justiça, afinal podemos fazer tanto pelos outros e vivemos centrados num egoísmo pessoal de punho cerrado, porquê?


Viver a Vida


Assim como a abelha trabalha incessantemente polonizando as flores para que estas possam gerar o fruto, assim nós teremos que voar de flor em flor, levando a palavra da boa nova do Senhor: amai-vos uns aos outros, como eu vos amei. Teremos que o fazer por palavras e por obras. A páscoa está próxima, em nossas casas haverá amêndoas, doces, talvez algumas iguarias. Enquanto nos deliciamos com tudo isto, milhões de pessoas estão a morrer à fome, estão doentes, carecem de algo que nos sobeja. Vamos continuar a ignorá-las? Será que teremos coragem para isso? Cada um de nós poderá ter uma melhor Páscoa se abrir o coração àqueles que não têm o necessário para o dia a dia. Quem sabe se essa pessoa não está a nosso lado, um amigo, um vizinho? Uma Boa e Santa Páscoa para todos.