quarta-feira, setembro 24, 2008

Espelho da alma


Mulher, porque tapas o rosto?

É por prazer ou vergonha?

Será para teres privacidade?

Teus olhos são lindos, imanam luz celeste

Teu olhar reflecte sentimentos

Transparece amor e ódio

Desejo de paixão profunda

Esperança num amor que já tens

Ou no que ainda procuras?

Recato de um rosto escondido

Por amor não correspondido?

Deixa-me fixar tuas pupilas

Reflectir em teus receios

Ir às profundezas da tua alma

Fazer lá o meu ninho de amor

Gozar dos teus sentidos

Olhar contigo para o Mundo

Abraçar o teu desespero

Estreitar todo o teu amor

Sorver tão doce deleite

Mesmo que tal me cause dor

A mágoa de não te poder ter

O desejo ardente de te possuir

São esperanças que sempre terei

Mesmo que me queiras banir

O sol continuará a brilhar

Tu continuarás a olhar

Eu nunca deixarei de o sentir

Talvez um dia me recebas

Permitas que meus olhos brilhem

Em mim cries sentimentos

Que para sempre serão seguidos

Áquem ou além, pouco importa

Minha alma será gémea

Do teu olhar penetrante

Mesmo que fiques distante

Eu estarei sempre presente

Aqui, agora e para sempre

quinta-feira, setembro 11, 2008

A Verdade


Sete letras formam a palavra verdade. No dicionário português a definição para verdade corresponde a: conformidade da ideia com o objecto; do pensamento com a expressão; do facto narrado com a sua realidade; qualidade do que é verdadeiro; realidade; coisa certa e verdadeira; boa fé; sinceridade. Certamente poderíamos acrescentar mais expressões significativas, mas é desnecessário. O que o dicionário não diz é que o ser humano interpreta o conceito de verdade da forma que mais lhe convém, vemos isso diariamente. Dissecar sobre a verdade daria para escrever muitos livros e mesmo assim seriam insuficientes. Tudo o que é simples não merece um tratamento tão expressivo, pois pode parecer que perde a sua substância, o que não corresponde à realidade das coisas.
Quando comecei a escrever este texto pensei em muitas coisas que poderiam ilustrar a verdade, mas na realidade tive dificuldade em articular os sentidos na procura de uma imagem que, porventura, pudesse consubstanciar a verdade. Acabei por escolher uma foto de água límpida de uma ribeira envolta por grandes pedras. O significado é óbvio. Todos nós somos livres para aceitar, defender e praticar a verdade, praticar sim, pois a verdade pratica-se. A verdade é um bem precioso, inestimável e pode ser um factor de união da humanidade, assim como a mentira é um mal execrável, podendo ser uma forma de divisão desumana e até cruel.
A nossa sociedade actual não dá valor à verdade, mas viver sem ela é impossível. Vida sem verdade não é vida. Dizer sim quando deve ser e não quando tem de ser não é fácil, pois por vezes tem que ser contra tudo e contra todos. Vergílio Ferreira diz no seu livro Pensar: berra o teu sim ou o teu não e deixa aos fracos o talvez. Os erros passam, mas a verdade fica porque faz parte do nosso ser.
No dia a dia somos confrontados com a falta de verdade que nos surge de todos os quadrantes, a comunicação social que entra em nossas casas veicula mais a mentira que a verdade, utilizando muitas vezes as meias verdades para vender o seu peixe. Em Portugal – e no Mundo – há uma classe de pessoas que, em permanência, faz o jogo interpretativo da verdade de uma maneira peculiar: os políticos. Eles não “mentem” – sabem que, por chamar mentiroso a alguém, o sujeito pode processar-nos? - apenas não dizem a verdade, na maior parte dos casos, contornando-a.
A apreciação que o escritor Eça de Queiroz fazia em 1867 dos políticos de então assenta bem – ainda hoje – à nossa classe política:
“Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expedientes. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha.
Eça de Queiroz, in 'Distrito de Évora (1867).
Apesar do que acima fica dito, ainda penso que não devemos generalizar, mas a excepção à regra é muito reduzida. Os povos têm direito à verdade e nem o Estado se deve sobrepor a tal disposição. Democracia e liberdade não são incompatíveis com a verdade e devem ser respeitadas pelos governantes até ao limite, só assim terão direito ao apreço do povo que governam.