terça-feira, novembro 18, 2008

Dia da folha

Hoje decidi instituir o dia da folha. Pois se há dias para tudo, porque não posso criar "um dia da folha?" Está feito, hoje, para mim é o dia da folha. Eu explico o porquê. De manhã olhei para a minha cerejeira e vi que estava quase despida, ou seja, sem folhas. Esteve bastante vento e cairam mais uns milhares de folhas (sim milhares, foi o que escrevi), pelo que passei mais de duas horas a varrer toda a área circundante. Mas como o sr. vento estava inquieto e com vontade de brincar, demorei mais tempo que o previsto, pois ele entreteve-se a brincar ao gato e ao rato afastando as pobres folhas para um lado e para o outro. Mesmo assim e com uma elevada dose de paciência, fui juntando toda a folhagem e tudo voltou a ficar como dantes: limpo.
Todos os anos perco algumas horas a fazer este trabalho no outono, pois a minha cerejeira é exigente. Despe-se no outono ( brrrrr, não percebo como ela se despe nesta altura do ano, com vento e frio) e na primavera começa novo ciclo voltando a vestir-se de verde, depois apresenta a sua bela flor branca, convida as abelhas para as polinizarem e finalmente vai começando a criar as cerejas que por ocasião de Maio estarão a pintar e mais tarde já prontas a comer. Só que, quando as cerejas estão vermelhinhas, começo a receber a visita permanente das mais diversas aves como pardais, melros e tantas outras. São centenas de visitas diárias que mesmo sem pedirem licença, lá vão comendo as cerejinhas. Mesmo assim, não fico triste, pelo contrário, sinto-me satisfeito por contribuir para o sustento de tanta passarada. Por vezes, só desejava que me deixassem ficar mais cerejas, mas possivelmente fazem mais falta a eles que a mim, paciência, penso eu. Este verão ainda fiz um "espantalho" - e bem grande - que coloquei quase no topo da cerejeira, mas verifiquei que eles não ligaram nenhuma ao boneco, comeram e levaram as que quiseram. Dos meus visitantes, aqueles que mais admiro são os melros, mais atrevidos, comem um ou dois frutos e levam quase sempre uma no bico, provavelmente para os filhotes que terão no ninho. Mas sabem porque não me importo? É que eles quando estão saciados deliciam-me com o seu cantar, fico encantado a ouvi-los. Só por isso, já vale a pena o trabalho que tenho todo o ano a tratar da cerejeira.

terça-feira, novembro 04, 2008

Política


No dicionário da língua portuguesa encontramos, para quem não sabe, o significado desta palavra: ciência ou arte de governar uma nação; orientação administrativa de um governo e por aí adiante. Ou seja, as pedras basilares do exercício da política deveriam ser a arte, ciência e orientação em prole dos povos que cada nação administra. Leram bem, sim, eu disse: deveriam ser, mas de facto não são, ou antes, aqueles substantivos têm uma interpretação oposta ao seu verdadeiro significado. Exercer política é uma arte nobre, sempre a entendi como tal, mas há políticos que fazem da mesma uma reles arte onde a verdade e a defesa do cidadão não têm lugar. Mas isso não sucede apenas em Portugal, acontece um pouco por tudo o mundo. Contudo, neste momento o que nos interessa é o nosso país, vamos reflectir um pouco sobre isso. Confesso que, pessoalmente, nunca me inclinei para a prática política, mas a verdade é que a mesma é tão importante nas nossas vidas que nunca descurei o acompanhamento desse exercício ao longo da minha vida. Não tive oportunidade de exercer a cidadania - através do voto - antes do levantamento de 25 de Abril de 1974, mas após essa data nunca permiti aos outros que decidissem por mim, mesmo quando aqueles em quem votei não cumpriram o que haviam prometido. Se eles não foram sérios, eu fui coerente e espero continuar a ser. É através do exercício da governação que um povo pode, ou não, ter uma vida digna. Há todo um conjunto de "poderes" - só ao alcance de quem os exerce - que acaba por ser imposto a uma nação, sem que aqueles que a compõem disponham de meios para se defenderem, mesmo em democracia. Nós elegemos um governo, mas este depois de eleito passa a deter o poder de nos representar, mesmo que actue contra os nossos interesses! É a dura realidade. Um governo tem a obrigação de proporcionar a todos os cidadãos as condições e os meios necessários à vivência de um dia a dia com dignidade, isso faz parte do articulado da Constituição da República e como tal deveria ser respeitado. Contudo, olhando em volta, o que vemos? A sociedade portuguesa é formada agora por duas camadas de população: os que estão bem na vida e aqueles que pouco ou nada têm. Dirão: mas sempre houve ricos e pobres, sim, isso é verdade, mas será bom notar que o número daqueles que pouco têm ainda não parou de aumentar. O nosso país é o que tem menor rendimento per capita na União Europeia, isso diz-nos alguma coisa? Claro que diz, pois sentimos na pele, apesar de nos quererem convencer que isto nunca esteve tão bom, de facto está bom, mas apenas para alguns. Eu nunca fui, nem sou contra os políticos, apenas abomino a forma como esses senhores fazem politica. Certamente que todos queremos políticos sérios e competentes para nos dirigirem, mas eu começo a perder a esperança de ainda ter a felicidade de beneficiar de uma situação onde esses valores sejam postos em prática por aqueles que detêm o poder. Estamos no meio de uma crise financeira que dentro de pouco será económica a nível mundial, estão a ser tomadas decisões que vão afectar o nosso presente e possivelmente o futuro dos nossos filhos e netos, devemos exigir que aqueles que elegemos cumpram o seu dever. Há alguns anos que estamos a assistir ao peso do Estado sobre o cidadão, será que isso vai continuar? Haverá alguma diferença entre o esmagamento económico do cidadão e aquele que outrora foi feito pelos tanques em Praga, por exemplo? Claro que há, mas a imagem tem que ser rude e suficiente explicativa. Já "cheira" a eleições e a única arma do povo é o voto. Espero que cada um de nós seja capaz de se exprimir livre e conscientemente no sentido de entregar os destinos da nação a dirigentes que reúnam condições morais para tal. O voto é das poucas coisas que nos resta da democracia, saibamos usá-lo em favor dos que mais precisam, daqueles que pouco ou nada têm.