domingo, agosto 27, 2006

A vida é uma flor bela, não a deixes murchar




As flores representam o que de mais belo temos na vida. Sem flores o Mundo seria um antro de tristeza e desgosto. A sua beleza eleva-nos aos cumes da esperança, do desejo da paz e bem estar. O gesto de oferecer uma rosa é algo de sublime quando, com ela, queremos mostrar a nossa gratidão pela vida.
Que o coração de cada um de vós aceite esta rosa que eu com alegria vos deixo, é uma rosa do meu jardim, é algo que ofereço com amor a todos que visitais este cantinho.

terça-feira, agosto 22, 2006

É o vinho senhor, é o vinho...

Pintura de José Malhoa - Museu de Caldas da Rainha

Este tema é candente e nada melhor que a arte de José Malhoa - os bêbados - para complementar um texto já de si com um grau (não alcoólico) de dificuldade elevado, tendo em conta a sua antiguidade, assim como uma actualidade incontestável. Não vamos fazer a apologia do vinho, bom ou mau, nem das suas qualidades e defeitos. Vamos contar uma história ocorrida em Lisboa (como poderia ter acontecido em qualquer outra cidade ou lugar) na década de 60. Quem conheceu Lisboa naquela época ainda teve oportunidade de ver pequenas casas a que chamavam tavernas - estavam espalhadas por toda a cidade - e que na generalidade vendiam apenas vinho, embora algumas já tivessem tabaco e alguns alimentos, sobretudo productos hortícolas. Recordo-me de que o vinho era vendido a copo e tirado da pipa no momento.Estas casas tinham um horário bastante alargado e eram frequentadas por pessoas de todas as categorias sociais, embora fossem os indivíduos de menores recursos que mais recorriam a estes espaços. Não fui frequentador daquele tipo de casas, pois nessa ocasião já começavam a surgir por toda a cidade os cafés e era para lá que os mais novos se encaminhavam. Era o local de convívio e estudo (sim, de estudo, quantos jovens iam para a mesa do café, tomavam algo e passavam lá horas a estudar, eu também o fiz. Eram outros tempos). Ao lado do prédio onde eu morei havia uma taverna e nessa altura tive oportunidade de conhecer muita gente que a frequentava, até porque uma boa parte eram vizinhos ou moravam não muito distante.
O Vinho era vendido a copo, directamente do barril

Um senhor já de meia idade e pintor de profissão, era um dos fregueses habituais daquela taverna. Ao fim da tarde e até anoitecer, eram inúmeras as vezes que o via a beber uns copitos e fazendo farra com os companheiros. Com o seu fato-macaco azul, alto e magro, fácilmente se distinguia - até pelo tom de voz. Quando eu passava sabia se ele estava ou não. Uns copitos a mais que a conta e ei-lo a falar bem alto, rindo-se por tudo e por nada. Homem muito trabalhador, com mulher e quatro filhos - só varões - não perdia a visita diária àquela taverna. Não se constava que em sua casa faltásse o que quer que fosse, mas a verdade é que a esposa não gostava daquele modo de vida, censurando-o com frequência. Apesar disso, o tempo foi passando, os quatro filhos cresceram, fizeram os estudos primários, mas um deles tinha um sonho: ser médico, doutor, como ele dizia. Contudo, os pais não tinham posses para tal. Começou a trabalhar cedo num escritório - como paquete - e à noite frequentava uma escola. Passado algum tempo deixei de os ver, mudaram-se de casa. O tempo vai passando inexorávelmente e eu nunca mais voltei a ver qualquer membro daquela família. Passados mais de quinze anos, encontrei casualmente - num café que outrora frequentara - o dito jovem que sonhava ser médico. Olhei na sua direcção, mas hesitei em dirigir-me a ele, na verdade não me parecia o mesmo, estava diferente, mas os traços fisionómicos eram os mesmos. Apesar de tudo isso, avancei e perguntei-lhe se era o Fernando que morara na minha rua, ele respondeu-me afirmativamente, reconhecendo-me também. Estivemos muito tempo à conversa, recordando esses tempos. O pai falecera com uma doença no fígado, os irmãos e a mãe eram vivos. Mas a minha curiosidade era saber o que ele tinha feito, se conseguira ou não concretizar o sonho. Para meu espanto, ele disse-me: estou a exercer medicina no hospital X. Comecei a fazer inúmeras perguntas, recordo-me que ele me confessou que o desejo de ser "doutor" o levou a suportar todos os sacrifícios: trabalhar de dia e estudar à noite até uma certa altura e depois mudar de emprego e continuar a estudar por cadeiras (disciplinas) acabando a formatura, tal como ansiara. Disse-me que o dia do "doutoramento" havia sido o melhor da sua vida até então. A alegria da mãe e dos irmãos fora uma enorme satisfação para ele. O pai já não teve oportunidade de ver, mas foi a ele que o jovem médico dedicou todo o seu trabalho. Um dia, o pai perguntara-lhe se ele queria ir trabalhar para a pintura com ele e a resposta foi sêca e directa: não pai, eu quero ser médico, quero ser alguém na vida. Também eu fiquei feliz por ele, conseguiu realizar o seu sonho. Ao saber a causa da morte do pai, perguntei-lhe de uma forma algo "desconchavada": então e tu também gostas da pinguita? (não sei como consegui o atrevimento para isso, mas de facto perguntei) Ele olhou-me muito sério e disse: não da forma como estás a pensar, não herdei isso de meu pai - nem nenhum dos meus irmãos -, bebo também às refeições ou mesmo fora delas em convívio, mas faço-o moderada e sensatamente. Mudei de imediato de assunto, mais tarde tive ocasião de voltar a conversar com ele e sinceramente, ainda hoje, vejo naquele jovem um exemplo para tantos que não o são.

A história que descrevo acima é real, talvêz eu tenha sentido alguma dificuldade em transmiti-la fielmente, mas quis fazê-lo para expressar o que penso àcerca do vinho - e até de outras bebidas. Quase tudo é bom, desde que consumido com moderação. O vinho é uma dádiva de Deus - não foi por acaso que frades de várias ordens foram dos primeiros a produzir dos melhores vinhos e até cervejas -, os médicos são de opinião de que beber vinho moderadamente faz bem à saúde. Fernando Pessoa dizia: boa é a vida, mas melhor é o vinho. Segundo a sua perspectiva, até tinha razão. Na sociedade portuguesa beber é snob, é moda, qualquer bebida serve para "marcar" a diferença, sobretudo entre a juventude. Quando se pensa assim, estamos a um passo do abismo que cava a diferença no ser humano. Perdem-se grandes homens e mulheres só porque não souberam distinguir (ou não conseguiram) entre o beber com prazer e moderação e o beber para se exibirem. Quem for inteligente e sensato saberá encontrar a melhor via, embora qualquer ser humano tenha a liberdade de se promover ou autodestruir, a escolha fica ao critério de cada um.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Amor














Vamos falar de amor. Mas o que que poderemos dizer que não haja sido dito ou escrito? Tantos escritores se pronunciaram sobre o amor e desamor, ouvimos diáriamente falar nele mas, quantas vezes, para dizerem e até provarem que ele não existe ou simplesmente, que é escasso. Que ele existe, não há dúvida. A grande incógnita é a nossa (de cada um) "medida" ou conceito do que é o amor.
As palavras que escrevi no pergaminho - é habitual serem pensamentos positivos ou lapidares e não interrogações -, nada definem, apenas têm a finalidade de nos fazerem pensar na interrogativa, mas o amor não será isso mesmo? Pensei em colocar a primeira frase na afirmativa - por me parecer correcta e abrangente, pois quem tem amor, tudo supera - mas li e reli e concluí ser mais oportuno pô-la também na interrogativa. Já a segunda frase deixou-me sérias dúvidas se a interpetrásse na afirmativa, mas caso seguisse a linha de pensamento de afirmativa na primeira, também poderia encará-la pela positiva, porque não? Finalmente a terceira frase que é uma realidade palpável e que põe em dúvida a segunda numa possível afirmação - quem sofre, não ama - é completada com a pergunta: é possível nos nossos tempos? Também esta complementariedade poderia ser na afirmativa. Será que isto não é uma enorme confusão? Dúvidas, mais dúvidas, mas afinal em que ficamos? Não tenho grandes alternativas, eu também as tenho. O próprio dicionário de português diz: amor (substantivo masculino) dando como significado: afeição, paixão, afecto, inclinação. Substantivo masculino e porque não haveria de ser feminino? A proveniência da palavra é latina - amòre -, talvêz nos ajude a compreender o porquê de ser masculino, ou não.
Eu gostaria de vos ajudar e dizer que o amor é a coisa mais maravilhosa que o ser humano tem, mas quantos o reconhecem e pôem em prática? Penso que terá de começar por cada um de nós, devagar, de mansinho, como quem não quer a coisa (a frase não é minha, penso que a ouvi) e começar por gostar um pouco mais de nós - sem egocentrismos -, irradiando o amor que em nós existe. Quantas vezes não tivemos ao nosso lado um amigo que precisou de uma palavra de conforto e não a demos; um filho que precisou de auxílio e não o concedemos; uma palavra carinhosa para a esposa(o) e esquecemos de o fazer? E tantas outras coisas que deixamos de fazer, só porque não estávamos atentos. O que passou já não podemos corrigir, mas hoje é um novo dia, se houver amanhã, será outro e por aí adiante, portanto vamos em frente esbanjando (sim, esbanjando) o amor que temos dentro de nós, só assim poderemos aspirar à felicidade e contribuir para o bem dos outros.
Com afecto e o desejo sincero de que sejam felizes.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Que esperas para além da vida?


Esta é janela da vida

Não tem caixilhos

Não tem vidros

Não tem fechos




Um dia a janela fechará

Ficará o esqueleto

Rude como a pedra

Que se desfará em pó




Depois de passares a janela

Que pensas levar contigo?

Riquezas, amor, poder ?

Que pensas encontrar?



Tu não sabes, eu também não

Só nos resta um caminho

Praticar em vida o bem

Amar todo o irmão


JES

terça-feira, agosto 01, 2006

Poesia de Florbela Espanca



AMAR

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi para cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...



Este poema de Florbela Espanca que viveu na procura da felicidade mas limitada pelas suas frustações e anseios, revela um sensualismo próprio, quase erótico. Nesse contexto, a palavra amar tem um significado profundo e muito sui géneris.
É uma homenagem que presto à poetisa que tão cedo abandonou aqueles a quem amava e simultâneamente aos que cultivam o sentimento do belo, especialmente às minhas leitoras com um beijinho - mesmo virtual - de gratidão.