sexta-feira, julho 28, 2006

Quem anda à chuva, molha-se.



É a sabedoria popular. De facto, quem anda à chuva, molha-se. Não obstante ser um ditado, serve perfeitamente para ilustrar o que me aconteceu. Apesar de haver iniciado o meu trabalho na net com outro blog temático - há mais de um ano -, a verdade é que apenas dei as ideias, os temas e fotos, e só pouco a pouco fui fazendo a gestão do espaço.
Quando há cerca de um mês criei este blog, decidi que teria de fazê-lo e arcar com o ónus, ou seja, partir para um domínio mais concreto da técnica. Resultado: fui elaborando lentamente o sítio, para dessa forma atingir os objectivos.
Toda esta conversa para dizer que, apenas hoje, coloquei um contador de visitas. Não é que seja muito importante, mas dá-nos uma ideia da aceitação ou não, do nosso trabalho. É verdade que os visitantes que por aqui passaram até hoje, não fazem parte do número do mostrador, mas já estão registados na lista dos amigos, mesmo que virtuais. Foi com todo o gosto que os recebi e desejo continuar a fazê-lo de futuro. Este espaço é comum, porque também é público, mas onde os amigos têm um lugar especial, porque é um espaço de partilha. Mas como quem anda à chuva, molha-se, desejo que este barco - que é o meu blog - não meta água e seja um porto seguro de visita e permanência para cada um de vós.

quarta-feira, julho 26, 2006

Dia dos Avós



Hoje comemora-se o dia dos avós. Esta imagem, que não passa de uma caricatura, serve perfeitamente para emoldurar o texto. O importante - neste caso - não é a imagem, mas sim as poucas palavras que vou adicionar.
A vida do ser humano é efémera, de curta duração. Quando se é avó ou avô, em princípio já se atingiu uma meta de declive da vida, mas muitas vezes compensada pela experiência adquirida.
Na sociedade que temos, os pais tem dificuldade em acompanhar os filhos e muitas vezes são os avós que suprimem essas carências. Quanto carinho e amor ainda há em tantos avós para dar, nem imaginam. Também eles precisam por vezes de um mimo, mas podem crêr que quando afagam um(a) neto(o) é o coração a transbordar de afecto que está na ponta das suas mãos e o toque é de algodão.

terça-feira, julho 25, 2006

O Poder do futebol em Portugal


Foto de António Azevedo/ASF


A publicação da foto é uma homenagem que pretendemos fazer ao secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias. Na conferência de imprensa do passado dia 19 de Julho e a propósito do caso Nuno Assis, jogador do Benfica, o governante teve a coragem de expôr públicamente aquilo que pensa - e por conseguinte o Estado Português - quanto ao possível doping daquele jogador no encontro disputado na Madeira entre o Marítimo e Benfica, em 03/12/2005. A história é (?) simples. O jogador em causa foi submetido ao controlo anti-doping e acusou positivo. A Comissão Disciplinar da Liga suspendeu o atleta por seis meses. O Benfica recorreu para o Conselho de Justiça da Federação (CJF), esta absolveu o jogador, anulando a decisão da Comissão Disciplinar da Liga e mandou arquivar o processo. O governante classificou o acórdão de "violação grosseira das normas, regulamentos e leis da luta contra o doping". Será bom lembrar que os motivos invocados pelo C.J.F. para a anulação se prende com "questões meramente formais" segundo comunicado da Federação Portuguesa de Futebol. TROCANDO POR MIÚDOS: mesmo havendo análise positiva, teria que ser devidamente especificado pelos organismos que se encarregaram da recolha, transporte e análise efectuada, o que segundo o governante, não corresponde. Razão tem o Sr. secretário de Estado para verberar este tipo de procedimentos que, na prática, acabam por impedir o devido castigo para aqueles que utilizam o doping. Pelo meio surgem acusações ao organismo que faz as análises (CNAD). Há aqui uma história mal contada. O Dr. Laurentino Dias assume que irá remeter o caso à Procuradoria-Geral da República, FIFA, UEFA e Agência Mundial Antidopagem (AMA) e eventualmente ao Tribunal do Desporto para apreciação. É a primeira vêz que um governante do Estado Português tem a coragem de "dar luta" aos "donos" do futebol, só por isso, merece o nosso apreço. O doping além de ser prejudicial à saúde, desvirtua o desporto, há que reconhecê-lo. Certamente que o caso não acaba aqui, vamos esperar pelos próximos capítulos.
Apenas algumas notas soltas. O futebol profissional tem regulamentos próprios, é necessário que TODOS aqueles que estão envolvidos os cumpram, infelizmente em Portugal não tem sido esse o caso. Cada organismo, clube ou atleta deve assumir as suas responsabilidades e não lutar únicamente pelos seus interesses. É necessário responsabilizar esses agentes, já que infelizmente muitos não são responsáveis.
Em Itália (campeã do Mundo de Futebol) ainda está a decorrer um processo que envolve os principais clubes da Série A do cálcio, quatro dos principais clubes (Juventus, Milan, Fiorentina e Lázio) já foram despromovidas à divisão secundária, para além de multas pecuniárias elevadas, suspensões a dirigentes e ábitros irradiados. O processo italiano prende-se com ilícitudes, tendo como principal objectivo a "compra" de resultados desportivos. Será que em Portugal isso seria possível? Com toda a sinceridade, duvidamos. Veja-se o caso "Apito Dourado", em que ficou?
É deveras lamentável que o futebol em Portugal continue a ser "um mundo à parte", onde há "donos" e o aspecto económico suplanta tudo o resto.
Será que um dia conseguiremos ver o poder político impôr-se e colocar o futebol português no plano de todos os outros sectores económicos e sociais? Tenho muitas reservas quanto a isso, mas até que isso aconteça, vamos ter esperança nessa possibilidade.

domingo, julho 16, 2006

Ter ou não ter tomates, eis a questão!




Vamos contar uma história. Um dia, Afonso conduzia o seu camião carregado de frutas e legumes a caminho do mercado, tinha acordado tarde e rolava a toda a velocidade. Numa curva mais apertada sentiu que alguns produtos haviam caído, mas não se deteve pois tinha pressa. Dois grossos tomates muito avermelhados rolaram pela estrada e foram cair na berma. Levantaram-se, sacudiram a poeira e um disse: safa, pensei que morria desta, quantas cambalhotas eu dei mas, parece-me que para além de umas pisadelas, está tudo bem. Pois é, respondeu o outro, eu só tive medo que algum carro me esmagasse, afinal foi só o susto.
Ainda olhavam um para o outro quando - um pouco mais à frente - depararam com uma grande cebola descamisada e pesarosa. Também ela havia caído e ficado maltratada. Não ligaram e seguiram dizendo: só nos faltava esta, depois desta desgraça ainda encontramos uma cebola suja e mal-cheirosa, Tu sentis-te o odor dela?
Sentado na berma do caminho estava o Manel pepino, cansado e cheio de larica, quando olhou e viu dois tomates e uma cebola mesmo à sua frente, deu um pulo e pensou: que bom, olha o que encontrei, pelo menos posso fazer uma magnífica salada. Se o pensou, mais depressa o fez e tragou àvidamente, tal era a fome que tinha.
Moral da história: quem tem tomates, chama-lhe seus e até pode fazer uma salada deles.
Reparem bem na maravilha destes que estão por baixo, lindos de morrer, serão saborosos?
Nota: penso que não esperavam outro final para a história, ou será que estavam a pensar "noutra história"? Não!...
Uma boa semana de trabalho.

sexta-feira, julho 14, 2006

Uma coroa imperial no...meu jardim!



Esta foto foi obtida esta semana. Ano após ano, entre Junho e Julho sou brindado com o ressurgir desta maravilhosa flor. Dura umas semanas e vai-se, mas desde os primeiros dias em que começa a abrir lentamente cada pétala, apresenta todo o vigor e beleza que merece ser lembrada tal como é. Aqui fica para a posteridade. Depois, tal como abriu, vai secando e caindo uma a uma, ficando o caule - que depois tenho o cuidado de cortar - e guardar para no próximo ano voltar a por na terra e recomeçar o ciclo. Isto para dizer que tudo tem um princípio e fim. Esta flor nasceu, viveu para nos dar prazer e morre naturalmente quando chega o seu tempo.
Poucas vezes pensamos na nossa existência tal como ela é. Nascer, viver e morrer. Daqui poderíamos partir para um texto bonito, talvêz até poético, mas a verdade é que eu gosto da verdade nua e crua, ou neste caso, da realidade. Perante este ciclo da vida de cada ser humano - da minha, da tua e dos outros - e olhando em redor ou mais longamente, que vemos? Guerra entre Israel e Palestinianos; no Iraque; no Afeganistão; movimentos de guerrilha em muitos países; fome e doenças em África e noutros pontos do Mundo; povos oprimidos na sua liberdade cívica e religiosa. Em suma, verificamos que os dirigentes de uma grande parte dos países do Globo continuam a utilizar o seu poder para matar e não para viver, pelo menos com alguma dignidade. Há necessidade de reflectir, nem que seja por momentos, e tentar ver qual é o nosso papel perante o que nos rodeia. Vamos continuar a fazer de conta que não vemos nem ouvimos? É longe, não nos diz respeito, pensarão alguns. Isso é lá com eles, dirão outros. Mas não é este Mundo uma aldeia global? Que estamos nós a fazer pelos que têm fome, sede, estão doentes, vivem em guerra? Temos a certeza que isso não nos diz respeito? Cada um de nós saberá o que em seu coração poderá fazer, descubra-o, porque estão milhões de pessoas à nossa espera, essa é a realidade. Já que a maioria dos governantes do Mundo não cumprem o seu dever de zelar pelos seus povos, procuremos nós a melhor forma de ajudar aqueles que nos estendem uma mão invisível, mas que sabemos ser bem real. A procura da paz no Mundo passa por tudo isso, paremos um pouquinho para pensar, vamos abrir o nosso coração aos outros para que eles também possam usufruir dessa paz a que têm direito. Mas não fiquemos pelos desejos, vamos ao concreto, como poderemos contribuir para minorar as carências daqueles que precisam? Cada um de nós terá a resposta, depois é só avançar.
Uma boa semana para todos.

quarta-feira, julho 12, 2006

Para o povo sobejarão alguns cêntimos?















Ontem e hoje, vieram à estampa diversas notícias através dos meios de comunicação social que merecem a nossa reflexão.

1) Bancos portugueses lucram mais de 4 milhões por dia (ganhos cresceram 30% num ano), de acordo com os dados oficiais do sector, disponibilizados pela Associação Portuguesa de Bancos (APB), no seu boletim informativo.

2) Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, assegura que os portugueses vão continuar a "apertar o cinto". Razão invocada: "reduzir o défice até 2008 para um valor abaixo dos 3 por cento - estando agora nos 6 por cento - vai continuar a exigir sacrifícios de todos os portugueses". A afirmação foi feita pelo ministro no final da reunião dos ministros da finanças da União Europeia em Bruxelas.

3) Câmara de Lisboa gasta só com acessores, segundo o Correio da Manhã 3,1 milhões de Euros/ano. De acordo com informação da TSF, 8 milhões. A Câmara Municipal de Lisboa nega a veracidade da informação.

4) No debate sobre o "estado da Nação", o primeiro-ministro português, José Sócrates, disse esta quarta-feira no Parlamento que a economia portuguesa "conseguiu inverter a tendência e regressou finalmente a uma trajectória positiva de crescimento".

Com toda a sinceridade, eu gostaria de comentar, mas a verdade é que prefiro ficar pelo título deste post "para o povo sobejarão alguns cêntimos?" e deixar a cada um de vós a possibilidade de opinar. Que acham de tudo isto?

segunda-feira, julho 10, 2006

A Selecção nacional cumpriu e honrou o País


Foto do jornal " O Jogo"

A imagem foi obtida no final do Inglaterra x Portugal, jogo dos quartos-de-final que terminou empatado a 0-0, mas que Portugal venceu na marcação de grandes penalidades por 3-1, passando assim às meias-finais. Neste jogo há um destaque especial: a excelente prestação de Ricardo ao defender 3 grandes penalidades, o que ficará na história, pois dessa forma muito contribuiu para a passagem de Portugal à fase seguinte com a França. A foto é significativa pela festa da selecção com o público apoiante. Foi bonito, pois a assistência - especialmente os portugueses - sempre apoiaram incondicionalmente a selecção das quinas.

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Tomando como referência a constituição da selecção nacional para o Euro 2004 e que obteve uma classificação muito meritória, Luiz Felipe Scolari utilizou os mesmos critérios para este Mundial de 2006. A escolha dos jogadores foi uma aposta ganha, assim como a união do grupo de forma ainda mais acentuada. Estes dois factores mais o apoio de todo um País que gosta de futebol, constituiram a base para o êxito obtido. Parabéns a toda a equipa que cumpriu e soube representar Portugal. A recepção à chegada ao aeroporto de Lisboa foi uma homenagem merecida, não apenas dos que estavam presentes, mas de todos os portugueses.
Conquistar um 4º lugar em Campeonato Mundial, honra qualquer País. Recorde-se que ficaram para trás selecções com valor idêntico ou superior à nossa, por exemplo: o Brasil e outros. Obter "apenas" esta classificação - e não outra superior - dispensava qualquer desculpa e aí, Carlos Godinho, director desportivo da Selecção Nacional esteve mal ao utilizar como exemplo o facto da mulher de Beckham estar na tribuna de honra e as mulheres dos nossos jogadores não estarem. Já concordamos com o que disse depois de que "temos muito pouca força na estrutura do futebol internacional", isso sim, é verdade. Acrescentou ainda "que Portugal é um País muito pequeno, que ainda não cimentou a sua posição internacional", infelizmente também corresponde.
Mas talvez seja oportuno lembrar a Carlos Godinho - e até a outros dirigentes - as palavras proferidas pelo secretário de Estado da Juventude e Desporto, Laurentino Dias, em Évora (03.02.06) na assinatura do protocolo entre o Instituto do Desporto de Portugal (IDP) e a Junta da Extremadura espanhola. "É muito feio, para nós portugueses, ocuparmos o último lugar nos hábitos de prática desportiva entre os 25 países da UE, e envergonha o máximo responsável do Desporto em Portugal, mas tenho de o dizer. Portugal, considerou Laurentino Dias, tem, de vez em quando, algumas alegrias e êxitos em competições internacionais", mas deve apostar no fomento dos hábitos desportivos entre a população, "sobretudo nas camadas mais jovens. Às vezes somos campeões da Europa nesta ou naquela modalidade e é bom que isso aconteça e vamos sempre procurar capacitar os nossos desportistas, mas nenhum país pode, ao mesmo tempo, querer formar campeões sem fazer um enorme esforço para seduzir e estimular mais população para a prática desportiva". Findou declarando que o actual Governo é para essa área que "dirige muito do esforço actual e vai continuar nos próximos anos". A ver vamos, como dizia o cego. Aguardamos os próximos passos da Lei de Bases do Desporto, para depois avaliarmos o cumprimento ou incumprimento destes objectivos. Mas, promessas à parte, será que os argumentos apresentados pelo secretário de Estado serão mais plausíveis que as desculpas utilizadas pelo director desportivo da Selecção Nacional?

sexta-feira, julho 07, 2006

O Fado mora em Lisboa


José Malhoa-1910 * Museu da Cidade - Lisboa

Nada melhor que terminar este trabalho singelo com uma referência ao fado, canção de Lisboa. Ilustramos com um quadro de José Malhoa, pintor de renome e que ainda hoje é recordado como grande mestre.
Lisboa tinha na década de 60 várias casas de fado. Só bastante mais tarde é que as conheci. Mas havia uma artista que preencheu o meu imaginário na juventude, que muito admirava e hoje presto homenagem: Amália Rodrigues. Passados tantos anos, continuo a ser fã. Admirava outros fadistas da época, uns mais que outros. Semprei gostei de ouvir o fado de Lisboa no feminino, porque o fado de Coimbra agrada-me mais no masculino, a forma e tonalidade são diferentes. No aspecto musical as minhas opções eram o Fado e The Beatles, aquela banda que mais tarde ficou famosa e ainda hoje é reconhecido que foi um marco para a época. Continuo a escutar com prazer qualquer destes tipos de canção.Recordo ainda com saudade a primeira vez que vi e ouvi Amália na Televisão - ainda a preto e branco - creio que em 58.
No aspecto artístico, os anos 60 ficaram marcados também pelo Teatro. Assisti a espectáculos no Nacional, por onde passaran grandes artistas e peças de muita qualidade, mas a minha simpatia e admiração nessa área foi sempre para o teatro de revista. Fui várias vezes ao Parque Mayer, tinha Artistas preferidos e que admirava, António Salvador era o número um. Adorava as piadas políticas e ele tinha um jeito de as transmitir melhor que ninguém. A subtileza, mordacidade e alegria das peças de revista sempre me deliciaram. A inauguração do Metro de Lisboa foi outra etapa vivida e que encarei com a maior normalidade, mesmo apesar de ouvir muitas pessoas de idade avançada dizerem: "eu andar debaixo do chão, nunca", mas a verdade é que anos volvidos até mesmo os mais velhos ficaram rendidos ao novo meio de transporte.
Antes de terminar, quero ainda recordar algo que marcou a minha infância nessa década. Eu que conhecia bem os cantinhos de Lisboa em função do meu trabalho, nessa altura também era guloso (o que é doce, nunca amargou, diz o nosso povo) e sempre que tinha de me deslocar a um cliente perto da Graça, subia a Calçada de S.André. Sensívelmente a meio da subida, havia um prédio antigo onde se encontrava sempre -junto à entrada - uma senhora de idade, ali vendia pasteis de nata feitos por ela. Custavam cinquenta centavos (cinco tostões). Sempre que ia àquele cliente, subia a rua de propósito, só para comprar os pasteis. A sensação que tenho ainda hoje é que não havia pasteis melhores que aqueles, nem os de Belém me sabiam tão bem. Anos mais tarde deixei de ver a senhora dos pasteis, mas a verdade é que ficou a lembrança. A criança que ainda hoje existe em mim CHORA esses tempos.

Lisboa é coisa boa



Não sei se o ditado popular estará correcto, mas a verdade é que a capital portuguesa é única. Para quem lá vive e para quem a visita. Tem quase tudo que uma grande cidade possui de bom e mau. Quem residiu naquela cidade na década de 60 ainda teve possibilidade de aproveitar umas saídas dominicais aos arredores - e até ás praias - que não tinham a poluição de agora. Era bom ir até Sintra, Amadora, Queluz e outras zonas que eram ainda periferia de Lisboa, ou quase. Era como sair da cidade e ir passar umas horas ao campo. Nessa ocasião, a maior parte da zona circundante da capital ainda não era o "dormitório" da cidade. Aos domingos era mesmo para a borga. Uma ida ao cinema, era óptimo se os trocados chegassem. A minha preferência ia sempre para as casas que apresentavam filmes do Oeste, era uma perdição. Já nessa altura gostava de visitar os jardins, Recordo-me do Botânico e outros como os da Estrela, Parque Eduardo VII, etc. Cultura, confesso que nunca foi o meu forte nessa idade, apesar de ter visitado o Museu dos Coches, o das Janelas Verdes, o Militar em Santa Apolónia e pouco mais. Morei muitos anos junto ao Museu Gulbenquian, adorava andar lá dentro, pisar aquela relva, ver o lago com os patos, mas penso que apenas entrei nas salas de exposição duas vêzes. Da segunda visita à exposição saí maravilhado, recordo-me de belas peças - algumas famosas, como as esculturas - quadros muito conhecidos e outros artefactos de diversos materiais, as pratas, as cerâmicas, etc. Falando de jardins, lembro-me de inúmeras visitas ao Campo Grande, adorava percorrê-lo de ponta a ponta, parando sempre no lago onde estavam os barcos, passava largos minutos a apreciar os palmípedes que ali viviam sempre à espera de alguém que lhe atirásse com alimento. O jardim da Fonte Luminosa era paragem obrigatória, o cinema Império foi uma das casas de espectáculo que eu frequentei. O jardim Zoológico era sempre atracção. O tempo que passava em casa era escasso, não havia televisão, apenas existia em alguns cafés, mas não faltava entretenimento. A "malta" arranjava sempre um jogo de futebol, um passeio a qualquer lado. Os jovens dessa década conviviam muito, eu desde cedo que comecei a participar em actividades da Acção Católica e portanto a ocupação fora das horas de trabalho era constante. Guardo excelentes recordações dessa altura. O Encontro Internacional da Juventude em 1962 foi - até hoje - uma das mais gratas.

quinta-feira, julho 06, 2006

O condutor


Já na década de 60 não era fácil ser condutor da Carris, especialmente dos eléctricos. É evidente que não imperava o caos de trânsito que hoje se verifica em Lisboa mas, tinha as suas dificuldades, tantas ou mais que outros transportes similares. Carros particulares não eram aos montões, o número era muito baixo em comparação com o que existe actualmente. Contudo, quem por norma viajava à frente junto ao guarda-freio assistia a casos curiosos. Uma ocasião em que viajei da Gomes Freire para a Praça da Figueira, desciamos lentamente a caminho do Martim Moniz e quando o eléctrico já fazia uma curva suave a caminho da paragem, surge um carro da esquerda - que pretendia seguir para um terreno em frente onde havia estacionamento - que bloqueou a passagem ao eléctrico. O guarda-freio, apesar de rolar vagarosamente não conseguiu evitar encostar ao carro. O condutor do dito saíu, dirigiu-se ao guarda-freio insultando-o ameaçadoramente, exigindo o pagamento de possíveis prejuízos. O lesado correu apressadamente ao encontro de um polícia sinaleiro que estava no cruzamento pedindo para que este tomásse providências. Entretanto o g.f. deixou descaír muito ligeiramente o eléctrico e este fez deslizar devagarinho o carro, afastando-o da entrada para o terreno de estacionamento. Quando o sinaleiro chegou, olhou para o carro e perguntou ao condutor como é que ele tinha feito aquilo, atravessando-se à frente do eléctrico. Este ficou estupefacto, articulou algumas palavras dizendo: o carrO não estava aqui. Perante a situação, o agente aconselhou o condutor a retirar o carro, dizendo-lhe que se não o fizésse de imediato o mandava multar pelo que havia feito. Olhei para o guarda-freio e pareceu-me ver um ligeiro sorriso debaixo de um bigode que metia respeito. Eu que ficava naquela paragem, desci e segui o meu caminho mas, pensando para comigo: que "lata" que o guarda-freio teve. O condutor do carro teria pensado o mesmo? Suponho que não, tal era a confusão que demonstrava.

Sentado? Só para senhoras e cavalheiros




Fazer uma viagem curta ou longa, era indiferente. Sentado, não obrigado. De pé tinha muitas vantagens e o corpo - apesar de frágil - aguentava bem. A vista era outra. Estes bancos da foto já são forrados a napa, mas no início eram em suma-pau, ou seja, madeira bem polida pelo sentar contínuo dos passageiros ao longo do dia, mêses e anos. Uma viagem no interior era uma aventura. Empurrão daqui, aperto dali - coitados dos pequenos, por vezes "entalados" entre os adultos - pisadela daqui e era uma festa. Nesses tempos ainda assistíamos a "cavalheirismos" ou boa educação, como queiram, era frequente um homem levantar-se do seu lugar e oferecê-lo a uma senhora. Nunca me recordo de ver uma senhora em pé com um bebé ao colo, qualquer pessoa se levantava para ceder o lugar. Quando pretendiamos sair, o aviso para o guarda-freio abrandar e fazer a cessação do movimento era feito por um toque na campainha. Para isso havia necessidade de puxar o fio - havia dois, um em cada fila lateral de bancos - e o puto como era pequeno, quantas vezes tinha que pedir a alguém para o fazer, mas pedia sempre, não fosse o eléctrico não parar. Viajar, mesmo no interior, nem sempre era agradável - principalmente no inverno e mesmo que as portas de correr de trás e da frente, assim como as janelas estivessem fechadas - o frio não perdoava, enregelava os ossos. As janelas eram duplas e fechavam na vertical, mas quando uma estava avariada e não subia para trancar, o frio fazia das suas. Por outro lado, alguns passageiros (as) aproveitavam para pôr a conversa em dia. Dependendo das zonas em que se viajava, ouvia-se cada coisa.... nem vos digo. Fora isso, aconteciam casos engraçados. Uma vêz uma senHora que ia em pé e agarrada a uma fita de cabedal que o veículo tinha em cima para que os passageiros se segurassem evitando quedas, voltou-se para trás e assentou uma valente bofetada num cavalheiro (?) este saíu célere, nada dizendo, mas a senhora explicou: olha o filha da p... que queria gôzo. Só mais tarde percebi o que se tinha passado, está visto que a senhora não gostou das festas(?).

Lisboa vista da janela



Será a partir desta janela do guarda-freio (era assim que se designava o condutor do eléctrico), que neste caso apresenta uma paisagem frontal bonita, apesar do monte de tijolos em frente - que vou descrever a história de um míudo que viveu em Lisboa na década de 60. Vamos dar-lhe um nome, será Zé, um zé qualquer. O transporte mais utilizado nessa ocasião era o eléctrico. Do Campo Grande à Praça do Comércio; da Rua de S. Nicolau aos Prazeres; de Xabregas a Belém ou Dafundo; Do Areeiro à Baixa; do Alto de S. João a Campolide; de Carnide à Baixa, passando pelo Jardim Zoológico e pela Praça de Espanha, afinal eram destinos com linhas e ramais cruzando-se e entrelaçando as ruas de Lisboa. Vivendo em plenas avenidas novas, este puto que todos os dias ia trabalhar - vendendo mercadoria, entregando ou recebendo as contas - viajava normalmente em pé, mesmo quando as distâncias eram mais longas. Havia paragens próprias mas, quantas vezes este míudo apanhava o eléctrico em andamento e até aprendeu a descer a velocidades acima da moderação. Quando podia, aproveitava e viajava no estribo - sempre era um bilhete que se evitava -, mas assim que chegava o "pica" (funcionário que vendia, conferia, picando o bilhete) subia para o interior ou descia apressadamente. Quando tinha de subir, quantas vezes percorria rápidamente um corredor completamente cheio, pedindo licença e entrando no Compartimento do guarda-freio, para - se fosse caso disso - descer em passo acelerado, evitando a compra de mais um bilhete. Eram tempos difíceis e qualquer tostão era precioso para amealhar e adquirir "A Bola" que nessa ocasião custava 2$50. Quando a média de custo dos bilhetes seria à volta de 1$00, sempre era possível juntar uns trocos.

O eléctrico da .... saudade?


Poderia ser "um eléctrico chamado desejo", parafraseando um filme muito conhecido, mas como pretendo apresentar uma crónica sobre a vivência em Lisboa nos anos 60, entendi que o título mais adequado seria este, afinal já passaram tantos anos e esse tempo deixou alguma saudade. A escolha da foto é significativa - embora tirada recentemente -, pois trata-se de um eléctrico abandonado, semi-destruído, fruto do tempo, da incúria e talvez objecto das brincadeiras de míudos traquinas.
Este texto será também um desafio para os leitores, para aprofundar a sua argúcia. Ao longo do artigo serão deixadas cinco letras maiúsculas e que conjugadas formam uma palavra que designa um meio de transporte antigo e que era puxado por equídeos. Noutros tempos viram-se nas ruas de Lisboa, onde transportavam passageiros. Para facilitar, a chave ficará no último parágrafo deste trabalho. Em compensação, reservo uma surpresa para aqueles que acertarem.

sábado, julho 01, 2006

Hino à selecção Portuguesa no Mundial

Há ocasiões na vida em que sentimos orgulho da Pátria que nos deu o berço. Hoje foi dia de futebol - para os que gostam e até para aqueles a quem o desporto da bola pouco diz. Houve jogo grande para o campeonato do Mundo. A selecção portuguesa defrontou a Inglaterra, empatou 0-0, mas acabou por vencer na marcação de grandes penalidades. Para além da passagem à fase seguinte - o que acontece pela primeira vez depois do mundial de 66 - há três notas importantes a destacar. A primeira é para o conjunto português que sempre confiou num bom desempenho e fez por isso, a segunda pela excelente actuação de Ricardo - defender três penaltes em cinco, é obra e finalmente pela satisfação do ego de milhões de portugueses em contrapartida com a tristeza que se abateu sobre os emproados inglêses. O orgulho desmedido e o apoucar dos portuguesitos não foi a melhor forma de encararem o jogo, agora só lhes resta a consolação de umas canecas de cerveja.... para esquecer o desaire.