segunda-feira, março 09, 2009

Pobreza envergonhada



O que é a pobreza envergonhada? São pessoas como nós que perderam a sua estabilidade de vida, mas têm de continuar a sobreviver e cumprir as obrigações assumidas.
Porquê este novo foco de instabilidade que vai levar à degradação social?
Deve-se, essencialmente ao desemprego, não apenas em Portugal, mas em todo o Mundo, que resvala vertiginosamente a cada minuto que passa. Parecendo uma afirmação catastrófica, não passa de mera constatação da realidade que neste momento estamos a sentir e cuja gravidade está longe de ser conhecida.
O direito ao trabalho continua a ser isso mesmo, um direito, e devidamente reconhecido, mas tantas vezes esquecido por aqueles que o devem promover e respeitar.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem diz no artigo 23º: “Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à protecção contra o desemprego. Toda a pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.Toda a pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de protecção social”.
Este novo tipo de pobreza é algo que nos devia deixar envergonhados a todos nós, mas se tal não acontece, algo não está correcto e por isso é nosso dever reflectir sobre ela e de alguma forma, dar contributo para a minorar.
Não estou a escrever isto fazendo retórica, não, eu sei pela experiência adquirida o que é, e portanto sinto-me à vontade para encetar esta conversa com cada um de vós que me lê neste momento.
Vou procurar transmitir-vos a extensão e gravidade deste problema que atinge a nossa sociedade e é uma forma de, também eu, relembrar o meu dever de cidadania, sentindo-me feliz por ter esta oportunidade para o fazer.
Estamos a falar de pessoas como nós, que têm família constituída ou já desfeita, que tinham uma vida estável, com carro, casa, telemóvel, um emprego; homens ou mulheres, com idades entre os 30/40 anos, grande parte com cursos superiores que, de um momento para o outro, perderam a sustentabilidade de um emprego ou empresas que geriam, caindo no declive da miséria humana mais atroz: a fome.
Porque não têm emprego ou outro meio para fazer face aos compromissos, cortam no mais básico ao ser humano: o alimento diário.
Muitos tem filhos e/ou outros dependentes e é para eles que canalizam o pouco que auferem, quando o conseguem; perderam quase tudo, mas mantêm a dignidade.
São pessoas que não dão a cara, têm vergonha de expor a situação aflitiva que vivem e muito menos perante aqueles que conhecem, propiciando já uma pobreza espiritual muito íntima. Estes novos pobres só procuram ajuda quando já estão desesperados.
Nesta ocasião há quem peça comida, mas também ajuda para pagar a prestação da casa, a renda, água, luz, medicamentos, etc.
Já há quem trabalhe como outrora: fazem horas e recebem em troca alimentos como: massa, arroz, azeite e outros produtos de primeira necessidade.
O seu número começa a ser assustador em Portugal, sobretudo dentro das cidades de Lisboa e Porto, nos subúrbios daquelas, e agora já há focos de situações idênticas por todo o país. Calcula-se em 300 mil almas apenas nas cidades e arredores mencionadas.
Esta situação verifica-se há cerca de uma década, tem aumentado diariamente e não sabemos como irá acabar, tendo em conta a situação do país.
Há organizações e entidades a trabalhar para minorar este flagelo: Misericórdias (IPSS), Banco Alimentar, Cáritas, paróquias, juntas de freguesia, organizações não governamentais, instituições de solidariedade social e outras atentas a esta situação. Contudo, são insuficientes perante o crescente número de pessoas necessitadas.
A pobreza em Portugal é, segundo os últimos números do Instituto Nacional de Estatística (INE), de dois milhões de pessoas (rendimentos abaixo de 360 Euros mensais). É uma crise económica que vivemos que em breve se poderá assumir como crise alimentar.
Fernando Nobre da Assistência Médica Internacional (AMI) diz: “o combate à fome, à pobreza e à exclusão tem de ser um desígnio nacional”.
Este é o quadro existente em Portugal até final do ano de 2008, quanto ao futuro, as perspectivas são cada vez mais negras, pois o Governo não tomou ainda as medidas necessárias e suficientes para combater este novo flagelo que atinge Portugal.


Este trabalho sobre INCLUSÃO SOCIAL faz parte da Blogagem Colectiva promovida pela Esterança
  • AQUI É o meu contributo para o estudo do tema, no sentido da procura de soluções.

  • Eduardo Santos

    19 comentários:

    Compondo o olhar ... disse...

    lindo seu texto, parabens pela bela participação nesta gde idea, a blogagem coletiva.


    abraços

    Unknown disse...

    Muitas vezes pergunto como que simples atos de verdade como foi desempenhado pela Ester, nos faz entrar nesse mundo magico de verdade; esse mundo que ao mesmo tempo falamos de algo serio, encontramos novos amigos, novos conteudos. Isso se chama mudança, isso é incluir na sociedade, mostrando o que somos capaz. E hoje ao ler seu conteudo deparo com varias suspresas como essa, que faz eu parabenizar a vc.. pelo excelente trabalho...

    Continuemos....abraços

    "A gente nao faz amigos, reconhece- os"
    Vinicius de MOrais

    Mari Amorim disse...

    Olá amigo,
    vim agradecer a visita ,e comentário,texto belíssimo,estou feliz com esse intercâmbio cultural com meus novos amigos de Portugal.Volte,quando puder e quiser.
    Beijos, verde e amarelo
    Mari

    Mírian Mondon disse...

    Olá! Obrigada pela visita e suas gentis palavras.

    Voce tocou num ponto sério. Tudo indica que estamos nos aproximando de uma grande depressao. E infelizmente o desemprego tende a aumentar em especial no primeiro mundo com suas economias convulsivas.

    E infelizmente o desempregado sofre mais de um tipo de exclusão. Como se a exclusao do mercado de trabalho nao bastasse, se as coisas nao se revertem em breve o desempregado entra para outros grupos tambem.

    Parabens pela partipaçao!

    Vanessa David Justo disse...

    Obrigada pelo comentário! Seu BLOG é excelente!" Abraço!

    Anônimo disse...

    Eduardo,

    aceitei seu convite para DESENHA-LO, e esta lá na Vítima da Quinta o resultado!

    Forte abraço,

    Ester disse...

    Caro Eduardo,

    Obrigada pela sua participação na coletiva!

    Seu assunto foi bastante pertinente e nos toca de perto, pois vivemos numa sociedade injusta,

    mas há esperança quando olhamos tantas pessoas se unirem em torno do bem comum!

    abraço fraterno e

    parabéns por ser a vítima da quinta!

    Zisco disse...

    Eduardo,

    agradeço muito a sua visita ao meu blog , vejo que a realidade nos toca com nuances diferentes de um mesmo problema, eu tb gostaria de abordar a questão da inclusão socil por esta vertente, não necessariamente por um nivelamento, onde todos fossem alçados à classe dominante, mas que todos pudessem realmente exercer seu papel na sociedade de forma digna, sem precisar recorrer à mendicância para sobreviver.
    Diferenças sociais sempre existirão, e são até mesmo boas e desejaveis, mas a miséria já é o extremo da desigualdade e da exclusão.

    Mari Amorim disse...

    Olá querido,
    lindo post!
    Passe lá em casa,e retire o primeiro Selo do Blog,agradecimento pelo carinho, e incentivo.

    Beijos,
    Mari

    Daniel Savio disse...

    Interessante, pois pelo o que eu vi na blogagem coletiva da Inclusão Digital da Ester, cada um escolheu um assunto que lhe parecer pertinente ou familiar.

    No meu caso, realmente não pensei na forma de ser demetido por causa da crise, mas caso ocorra, terei de me atualizar rapidamente (tem algum tempo que não estudo algo da minha área).

    E parabéns pelo texto.

    Fique com Deus, menino Eduardo.
    Um abraço.

    Anônimo disse...

    Permita-me que adicione esta magnífica postagem ao meu blog.

    (tenho pena de não ter sabido da blogagem colectiva)

    Abraço

    Ceci disse...

    Olá, Eduardo, obrigada pela visita ao Viver Melhor. A blogagem tem também esse mérito, o de aproximar pessoas com afinidades, criando elos entre idéias e ideais. Gostei do seu enfoque sobre a pobreza envergonhada, denso e claro. Nesse tempo em que uma crise do capital mostrou novas faces da humanidade, vejo também que muita "riqueza acumulada" era virtual, uma fantasia que somente trouxe prejuízos a sociedade planetária. O homem vai ter de encontrar outras formas de trabalho que não o assalariado. Como vai ser, não sei, mas é impossível haver emprego para tanta gente, de norte a sul, de leste a oeste.
    Amigo, mais uma vez, obrigada. E parabéns pelos seus escritos.

    Ceci disse...

    Olá, Eduardo, obrigada pela visita ao Viver Melhor. A blogagem tem também esse mérito, o de aproximar pessoas com afinidades, criando elos entre idéias e ideais. Gostei do seu enfoque sobre a pobreza envergonhada, denso e claro. Nesse tempo em que uma crise do capital mostrou novas faces da humanidade, vejo também que muita "riqueza acumulada" era virtual, uma fantasia que somente trouxe prejuízos a sociedade planetária. O homem vai ter de encontrar outras formas de trabalho que não o assalariado. Como vai ser, não sei, mas é impossível haver emprego para tanta gente, de norte a sul, de leste a oeste.
    Amigo, mais uma vez, obrigada. E parabéns pelos seus escritos.

    Fernando Rocha disse...

    Eduardo: primeiramente, o seu texto colabora de uma maneira precisa e expressiva, para que possamos obter informações sobre Portugal, sem que estas venham da mídia oficial, a qual nem sempre é confiável, ao menos aqui no Brasil.
    O desaparecimento da classe média, colabora para o aumento do abismo social e da injusta divisão de renda.
    Alguns portugueses ainda acreditam que o país irá se reerguer quando Dom Sebastião voltar, aqui no Brasil estamos à mercê do acaso.

    Tentativas Poemáticas disse...

    Caro amigo Eduardo
    Comentei no outro blogue antes de conhecer este onde publicou um excelente trabalho integrado na Blogagem Colectiva. Parabéns. Já temos vária(o)s amiga(o)s comuns.
    No meu blogue tenho um Prémio Tentativas Poemáticas (azul) que também é seu. E pode retirar aqueles que julgar mais interessantes e com os quais me têm vindo a fazer o favor de presentear.
    Um grande abraço.
    António

    Nanda Botelho disse...

    Acho que o que nos empurrou para uma situação dessas, foram nossos valores rígido, por exemplo; o crescei e multiplicai-vos, hoje temos mais gente no mundo do que podemos dar conta, outra coisa é a mentalidade do salvador, estamos sempre querendo que alguém resolva o que é de nossa responsabilidade,acho que a mentalidade da vítima faz a gente desanimar, num momento que se pede para ser independente, ainda procuramos "emprego", hoje o que temos é trabalho e trabalho não falta como emprego, a vida está nos empurrando para o empreendedorismo e quem não for vai ser atropelado, acredito muito na força do pensamento, nossas crenças nos determinam a experiência vivida.

    Quando aprendermos a usar essa ferramenta, o poder do pensamento, começaremos a construir uma existência mais justa.

    Está na nossa cabeça a solução, se mudarmos os valores que nos guiam, penso que executaremos uma vida mais rica. Mas primeiro tem que vir o caos, deve haver dor, pois a dor desperta a consciência, faz a gente olhar e refletir. Se tivermos coragem de perguntarmos, no que meu estilo de vida contribui para esse momento, a solução irá se desenvolvendo, porque as direções já foram dadas por todos os iluminados que passaram na terra, mas ainda não conseguimos fazer as mudanças internas necessárias para executar na prática.

    Obrigada pela visita.
    Bjs.

    http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

    Eduardo, sensacional esse seu texto.

    Tentei adicionar minha foto no seu quadro de imagens mas esse programa é muito difícil de abrir, nao consegui.

    Tenho um no meu tb,mas mais simples.

    Bom fim de semana e valeu sua forca no Movimento Natureza. Hoje na Saia Justa dei uma explpicacao de como o projeto vai funcionar. Te espero.

    Movimento Natureza disse...

    vim esclarecer um pouco sobre o projeto movimento e como ele funciona. Cada pessoa escolhe um dos passos para fazer no projeto.
    Nao tem que fazer tudo nao e nem tem no dia 22 de abril escrever um texto enorme e nada copiado da internet.
    O texto será produzido por você mesmo de acordo com a experiência que você tiver com a parte do projeto escolhida por você.

    Se você plantar uma árvore, entao fotografe e no dia coloque no seu post. Se vc resolveu fazer algo com a sua turma, fotografe e diga o que vc fez.
    Se foi na firma onde vc trabalha, mostre o que vc fez em prol da Natureza.

    Nada de textos retirados da net.

    O Projeto Movimento Natureza é movimento e para isso ele precisa de acao, ele precisa que você coloque a mao na massa.

    Nao é blogagem coletiva, trata-se de um projeto a qual estaremos dando continuidade.

    Obrigada pelo apoio e qualquer dúvida pode perguntar.

    Um abraco Georgia

    Mírian Mondon disse...

    Oi Eduardo, logo voltarei para te ler!

    Tem um COMUNICADO URGENTE no meu blog! Avise seus amigos, estou tentando avisar a todos que me acompanham!

    Abraços