quinta-feira, setembro 11, 2008

A Verdade


Sete letras formam a palavra verdade. No dicionário português a definição para verdade corresponde a: conformidade da ideia com o objecto; do pensamento com a expressão; do facto narrado com a sua realidade; qualidade do que é verdadeiro; realidade; coisa certa e verdadeira; boa fé; sinceridade. Certamente poderíamos acrescentar mais expressões significativas, mas é desnecessário. O que o dicionário não diz é que o ser humano interpreta o conceito de verdade da forma que mais lhe convém, vemos isso diariamente. Dissecar sobre a verdade daria para escrever muitos livros e mesmo assim seriam insuficientes. Tudo o que é simples não merece um tratamento tão expressivo, pois pode parecer que perde a sua substância, o que não corresponde à realidade das coisas.
Quando comecei a escrever este texto pensei em muitas coisas que poderiam ilustrar a verdade, mas na realidade tive dificuldade em articular os sentidos na procura de uma imagem que, porventura, pudesse consubstanciar a verdade. Acabei por escolher uma foto de água límpida de uma ribeira envolta por grandes pedras. O significado é óbvio. Todos nós somos livres para aceitar, defender e praticar a verdade, praticar sim, pois a verdade pratica-se. A verdade é um bem precioso, inestimável e pode ser um factor de união da humanidade, assim como a mentira é um mal execrável, podendo ser uma forma de divisão desumana e até cruel.
A nossa sociedade actual não dá valor à verdade, mas viver sem ela é impossível. Vida sem verdade não é vida. Dizer sim quando deve ser e não quando tem de ser não é fácil, pois por vezes tem que ser contra tudo e contra todos. Vergílio Ferreira diz no seu livro Pensar: berra o teu sim ou o teu não e deixa aos fracos o talvez. Os erros passam, mas a verdade fica porque faz parte do nosso ser.
No dia a dia somos confrontados com a falta de verdade que nos surge de todos os quadrantes, a comunicação social que entra em nossas casas veicula mais a mentira que a verdade, utilizando muitas vezes as meias verdades para vender o seu peixe. Em Portugal – e no Mundo – há uma classe de pessoas que, em permanência, faz o jogo interpretativo da verdade de uma maneira peculiar: os políticos. Eles não “mentem” – sabem que, por chamar mentiroso a alguém, o sujeito pode processar-nos? - apenas não dizem a verdade, na maior parte dos casos, contornando-a.
A apreciação que o escritor Eça de Queiroz fazia em 1867 dos políticos de então assenta bem – ainda hoje – à nossa classe política:
“Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expedientes. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha.
Eça de Queiroz, in 'Distrito de Évora (1867).
Apesar do que acima fica dito, ainda penso que não devemos generalizar, mas a excepção à regra é muito reduzida. Os povos têm direito à verdade e nem o Estado se deve sobrepor a tal disposição. Democracia e liberdade não são incompatíveis com a verdade e devem ser respeitadas pelos governantes até ao limite, só assim terão direito ao apreço do povo que governam.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Eduardo, que bom ler o seu comentário no meu cantinho "esquecido", e que texto magnífico este seu. A imagem tambem a relaciono com verdade, mas eu pessoalmente associaria à cor branca, pois é limpído, ainda que associada à paz enevitávemente. Mas de facto gostei muito de lê-lo e identifico-me muito com o seu pensamento neste texto. Parabens pela forma como pensa e espero que seja compatível com a forma como age, pois da verdade nasce tanta coisa de que precisamos (o mundo).
Tudo de bom
Elsita do ritmoscontinuados