quinta-feira, julho 06, 2006

Lisboa vista da janela



Será a partir desta janela do guarda-freio (era assim que se designava o condutor do eléctrico), que neste caso apresenta uma paisagem frontal bonita, apesar do monte de tijolos em frente - que vou descrever a história de um míudo que viveu em Lisboa na década de 60. Vamos dar-lhe um nome, será Zé, um zé qualquer. O transporte mais utilizado nessa ocasião era o eléctrico. Do Campo Grande à Praça do Comércio; da Rua de S. Nicolau aos Prazeres; de Xabregas a Belém ou Dafundo; Do Areeiro à Baixa; do Alto de S. João a Campolide; de Carnide à Baixa, passando pelo Jardim Zoológico e pela Praça de Espanha, afinal eram destinos com linhas e ramais cruzando-se e entrelaçando as ruas de Lisboa. Vivendo em plenas avenidas novas, este puto que todos os dias ia trabalhar - vendendo mercadoria, entregando ou recebendo as contas - viajava normalmente em pé, mesmo quando as distâncias eram mais longas. Havia paragens próprias mas, quantas vezes este míudo apanhava o eléctrico em andamento e até aprendeu a descer a velocidades acima da moderação. Quando podia, aproveitava e viajava no estribo - sempre era um bilhete que se evitava -, mas assim que chegava o "pica" (funcionário que vendia, conferia, picando o bilhete) subia para o interior ou descia apressadamente. Quando tinha de subir, quantas vezes percorria rápidamente um corredor completamente cheio, pedindo licença e entrando no Compartimento do guarda-freio, para - se fosse caso disso - descer em passo acelerado, evitando a compra de mais um bilhete. Eram tempos difíceis e qualquer tostão era precioso para amealhar e adquirir "A Bola" que nessa ocasião custava 2$50. Quando a média de custo dos bilhetes seria à volta de 1$00, sempre era possível juntar uns trocos.

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