quinta-feira, julho 06, 2006

O condutor


Já na década de 60 não era fácil ser condutor da Carris, especialmente dos eléctricos. É evidente que não imperava o caos de trânsito que hoje se verifica em Lisboa mas, tinha as suas dificuldades, tantas ou mais que outros transportes similares. Carros particulares não eram aos montões, o número era muito baixo em comparação com o que existe actualmente. Contudo, quem por norma viajava à frente junto ao guarda-freio assistia a casos curiosos. Uma ocasião em que viajei da Gomes Freire para a Praça da Figueira, desciamos lentamente a caminho do Martim Moniz e quando o eléctrico já fazia uma curva suave a caminho da paragem, surge um carro da esquerda - que pretendia seguir para um terreno em frente onde havia estacionamento - que bloqueou a passagem ao eléctrico. O guarda-freio, apesar de rolar vagarosamente não conseguiu evitar encostar ao carro. O condutor do dito saíu, dirigiu-se ao guarda-freio insultando-o ameaçadoramente, exigindo o pagamento de possíveis prejuízos. O lesado correu apressadamente ao encontro de um polícia sinaleiro que estava no cruzamento pedindo para que este tomásse providências. Entretanto o g.f. deixou descaír muito ligeiramente o eléctrico e este fez deslizar devagarinho o carro, afastando-o da entrada para o terreno de estacionamento. Quando o sinaleiro chegou, olhou para o carro e perguntou ao condutor como é que ele tinha feito aquilo, atravessando-se à frente do eléctrico. Este ficou estupefacto, articulou algumas palavras dizendo: o carrO não estava aqui. Perante a situação, o agente aconselhou o condutor a retirar o carro, dizendo-lhe que se não o fizésse de imediato o mandava multar pelo que havia feito. Olhei para o guarda-freio e pareceu-me ver um ligeiro sorriso debaixo de um bigode que metia respeito. Eu que ficava naquela paragem, desci e segui o meu caminho mas, pensando para comigo: que "lata" que o guarda-freio teve. O condutor do carro teria pensado o mesmo? Suponho que não, tal era a confusão que demonstrava.

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